Será que você tem uma mãe tão ciumenta que não deixa você colocar o pé na rua, não permite que você namore, e vive dizendo que você é a "O Reizinho da mamãe"? E que jamais poderá ter um relacionamento? Ela faz cara feia quando você menciona que está namorando e até pode ser contra o seu casamento?
Ou será que, de repente, você tem uma mãe um tanto esquisita, que trata seu irmão de maneira diferente, quase como se fosse o marido dela? Ela o envolve em tarefas e responsabilidades que normalmente caberiam a um cônjuge e o transforma em um confidente, compartilhando segredos íntimos que geralmente não existem entre mães e filhos?
Você acredita que isso possa estar acontecendo na sua família?
Isso pode ser incesto emocional, que é diferente do incesto sexual. No incesto emocional, não há a relação sexual em si, mas existem comportamentos muito inadequados e confusos que podem ter consequências tão devastadoras quanto o abuso físico.
Muitos sobreviventes talvez não tenham plena noção de que viveram uma relação de incesto emocional com os pais. Por isso, identificar esses sinais é extremamente importante. Embora o tema geralmente atinja um público adulto — mulheres de 25 a 45 anos — é possível que adolescentes também estejam vivendo essa realidade.
O incesto emocional pode ocorrer tanto em lares com mães narcisistas quanto com pais narcisistas.
No caso das mães, se houver filhos de sexos diferentes, é comum que a mãe narcisista trate o filho homem como o "filho dourado" e a filha como a "ovelha negra". Essa não é uma regra, mas é algo que se observa frequentemente.
Quando o filho homem é o "dourado", ele frequentemente se torna alvo de incesto emocional. A mãe pode confundi-lo com uma extensão dela mesma, criando uma relação simbiótica, quase como se fosse uma relação de casal, enquanto trata a filha cada vez pior.
No caso dos pais, pode ocorrer o oposto: a filha é colocada no papel de "princesa" e o filho no papel de "bode expiatório". Essa dinâmica também pode gerar incesto emocional, pois o pai pode desenvolver um ciúme excessivo em relação à filha, tratando-a como se fosse sua esposa emocionalmente.
É importante entender que o incesto emocional não envolve sexo propriamente dito, mas é um tipo de interação que confunde os papéis entre adultos e crianças, de forma psicologicamente inadequada. Esse tipo de disfunção tem consequências devastadoras.
Por exemplo, um pai que trata a filha como se fosse sua esposa emocional, mesmo que não haja um relacionamento sexual, pode criar uma dinâmica profundamente prejudicial. Esse comportamento desvia a criança de suas necessidades normais e a obriga a assumir responsabilidades adultas, como proteger emocionalmente os pais ou lidar com problemas que não são adequados para sua idade.
Na mitologia grega, Atlas foi condenado a carregar o céu nos ombros para evitar que ele caísse sobre a Terra. Da mesma forma, crianças que vivenciam incesto emocional frequentemente assumem o papel de "carregadores" emocionais e até financeiros de suas famílias. Meninos criados dessa forma muitas vezes são descritos por psicólogos como possuindo uma "personalidade Atlas", carregando responsabilidades desproporcionais para sua idade.
Esses filhos e filhas são obrigados a ouvir segredos íntimos dos pais, a tomar decisões importantes sobre o futuro da família, a mentir para proteger os pais, ou até mesmo a lidar com questões extremamente delicadas, como a infidelidade ou dependência química dos responsáveis.
Quando essas mães ou pais envelhecem, a dinâmica frequentemente piora. Eles podem exigir que os filhos cuidem deles na terceira idade, como se fosse uma obrigação. Muitos filhos, mesmo já adultos, têm dificuldade em impor limites, permanecendo presos a essa relação abusiva.
Se você acredita que está vivendo algo assim, busque ajuda. É essencial procurar profissionais que compreendam a dinâmica do narcisismo e do incesto emocional.
Virginia Coser - Psicanalista Clínica - Registro SOPES - 0120-2021
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