Os danos físicos causados por mães narcisistas. Talvez você pergunte: “Danos físicos? Posso ter uma lesão no braço ou na perna causada por uma mãe narcisista?” Não, gente. São doenças que se manifestam no corpo físico, não só na mente, devido aos maus-tratos da mãe narcisista. Então, para que não haja confusão: não estamos falando de perder um braço ou uma perna; estamos falando de doenças físicas que surgem em consequência do abuso psicológico.
O corpo guarda as marcas das dores da alma. Essa dor vem de um lar disfuncional e de uma mãe narcisista. É uma dor causada por manipulação, violência psicológica, e abandono emocional. Ela deixa marcas no corpo, que a ciência consegue explicar.Tudo começa com o *estresse tóxico*. Esse estresse ocorre quando o acolhimento não acontece. Imagine uma situação: uma criança quase é atropelada e toma um grande susto. Com uma mãe acolhedora, a criança seria confortada e tranquilizada, e o botão do "pânico" seria desligado. Porém, com uma mãe narcisista, o acolhimento não ocorre, e o botão do pânico fica ativado, gerando um estresse contínuo. Esse estresse constante, o *estresse tóxico crônico*, fica circulando no corpo e desregula o sistema. O cortisol é elevado, e uma proteína específica (a proteína S100B) fica presente no sangue, indicando um trauma emocional.
Esse estresse tóxico crônico prejudica o sistema imunológico e aumenta a propensão a infecções repetitivas, alcoolismo, depressão, câncer, obesidade, e outras doenças graves. Crianças que passam por isso tendem a crescer mais doentes. Quanto mais jovem o cérebro, mais devastador é o efeito do estresse tóxico. Bebês expostos a esse ambiente têm maiores chances de desenvolver problemas de saúde graves.
Segundo o Dr. José Martins Filho, presidente da Associação Brasileira de Pediatria, estudos mostram que a proteína S100B, comum em traumas físicos graves, também está presente em crianças que sofrem violência emocional. Esse marcador biológico evidencia o impacto profundo que o abuso emocional tem sobre o corpo. Crianças com traumas emocionais apresentam níveis dessa proteína tanto quanto aquelas que sofreram traumas físicos.
Esses traumas podem reduzir o volume cerebral, aumentar as chances de depressão e ansiedade, e gerar condições metabólicas e autoimunes. Muitas mulheres que atendo sofrem com doenças autoimunes e metabólicas, como hipotiroidismo, doenças cardiovasculares, entre outras. Os estudos são claros: o impacto psicológico é tão grave quanto o físico.
Ainda existe a tal da experiência adversa na infância. Estudos relacionam a adversidade precoce com padrões de expressão diferencial de genes, que parecem persistir na vida adulta. Vários genes foram identificados como sofrendo modificações como resultado das experiências adversas na infância. Assim, o seu gene sofre uma modificação em decorrência dos traumas na infância, em decorrência de tudo o que você viveu com sua mãe narcisista, e isso pode ser transferido para os seus filhos. Infelizmente, seus filhos podem herdar geneticamente essas modificações nos genes, relacionadas a doenças como depressão, cardiopatias, doenças hepáticas, diabetes e até doenças pulmonares. O trauma afeta o gene, infelizmente.
As experiências adversas na infância são resultado de estudos do Instituto Kaiser, nos Estados Unidos, onde acompanharam cidadãos americanos desde a infância que sofreram diversos traumas no ambiente familiar, analisando como esses traumas impactaram a saúde. Existe uma escala chamada ACE (Adverse Childhood Experiences), que tem uma pontuação específica. Amanhã vou falar sobre o teste da escala ACE, então não percam. Vou explicar a pontuação e os tópicos para esse cálculo.
As experiências adversas na infância são baseadas em estudos científicos com amostras da população americana, e, posteriormente, outros estudos vieram comprovar esses achados. Negligências e abusos fazem parte dessa escala. Existe uma pirâmide que ilustra, na base, a maior percentagem de pessoas com expectativa de vida reduzida devido às experiências adversas na infância. Sobreviventes de mães narcisistas geralmente enfrentam essas experiências adversas, em maior ou menor grau, e a expectativa de vida é reduzida em até 20 anos. Nessa pirâmide, vemos comportamentos problemáticos, menor desempenho acadêmico, desemprego e menor acesso econômico. Em seguida, vêm as doenças psicológicas e, depois, as doenças físicas.
A prevalência de algumas doenças entre pessoas que sofreram experiências adversas na infância inclui 33% mais propensão ao tabagismo, 24% ao consumo de álcool, além de dificuldades para manter um emprego e para acessar seguro de saúde. O trauma afeta o cognitivo, o rendimento escolar e a regulação emocional, tornando mais difícil para o sobrevivente manter um emprego, especialmente se não tem acesso a tratamento. Isso se torna também um problema socioeconômico, pois o sobrevivente pode ter dificuldades para se manter financeiramente.
Entre as condições associadas a experiências adversas na infância, temos transtorno depressivo, doença pulmonar, asma, doenças renais, AVC, câncer, diabetes, doença cardíaca coronariana, sobrepeso e obesidade. Esses fatores já trazem um impacto significativo para a saúde, mas, somados ao tabagismo, consumo de álcool e ao estresse, aumentam o risco de doenças cardíacas, AVC e câncer.
Estudos também identificaram outras doenças mais prevalentes entre aqueles que enfrentaram adversidades na infância, como artrite, doença cardiovascular crônica, diabetes e enxaquecas. Sobre prevenção, o ideal é, para os que ainda são jovens, prevenir essas doenças antes que se manifestem. A melhor forma de tratar as experiências adversas na infância é pela prevenção, com práticas que muitos já conhecem, como ter um sono adequado, manejo de estresse, atividade física, terapia e alimentação saudável. Se não fizer isso, há uma chance real de morrer até 20 anos mais cedo, porque já se perdeu muito tempo na escuridão.
Além das doenças físicas, existem também as doenças psicossomáticas, que envolvem sintomas físicos e, muitas vezes, não têm uma causa clara. Alguns exemplos incluem enxaquecas, psoríase e outras doenças de pele, anemia, alergias alimentares e respiratórias, gastrite, fibromialgia e distúrbios do sono. Muitos sobreviventes de experiências adversas também sofrem de bruxismo, ATM, dores crônicas e até doenças autoimunes, como lúpus.
Em resumo, se você é sobrevivente e identificou essas dificuldades, procure ajuda para realizar o autocuidado necessário. Se você é terapeuta, estenda a mão e ajude os sobreviventes a buscarem essa prevenção. Além disso, esteja atento às doenças psicossomáticas, que podem ser desencadeadas pelo histórico de traumas na infância.
O tratamento das doenças psicossomáticas envolve seguir o protocolo de cada doença, ou seja, seguir o que o médico está dizendo para você. Em alguns casos, isso inclui medicação e fazer terapia para trabalhar os seus traumas, elaborando melhor tudo que aconteceu com você e colocando cada trauma em sua “pastinha” dentro do seu cérebro. O manejo do estresse é fundamental, tanto para as doenças psicossomáticas quanto para as doenças da escala ACES. O estresse não é apenas resultante do trauma, mas também do estresse pós-traumático, que é constante. Portanto, o manejo do estresse também é muito importante.
O trauma impacta a sociedade como um todo e é parte de tudo que se manifesta na comunicação entre pessoas. E é deixado de lado nas formações. É inadmissível isso. Quando as instituições vão olhar para o trauma como um problema? Eu acho que deveria, na psicanálise e na psicologia, ser um dos principais focos, porque a raiz da depressão e da ansiedade muitas vezes está no trauma.
Diversas doenças físicas, psicológicas e psiquiátricas têm suas raízes no trauma, e muitos terapeutas não sabem absolutamente nada sobre isso. A realidade é essa. Então, você que é sobrevivente, só se trate com profissionais que entendam de trauma, senão você vai dar voltas e não vai resolver seus dilemas. Se você quer um terapeuta, busque um que se especialize em trauma, porque a instituição não te deu o conhecimento necessário, apenas o básico. O trauma vai estar na sua vida diariamente no seu consultório com seus pacientes, e se você não tem um olhar clínico para identificá-lo, vai ficar apenas “enxugando gelo”. Eticamente falando, o que adianta você só ganhar o dinheiro do seu paciente sem levar aquilo que ele realmente precisa? Como dormir tranquilo, colocando a cabeça no travesseiro, sabendo que você está ali apenas “enxugando gelo”?Sinta-se segura(o) para atender seus pacientes, inscreva-se no curso online sobre mães narcisistas, as sequelas nos filhos, o manejo terapêutico e irá aprender tudo relacionado à traumas, clique AQUI.
Virginia Coser - Psicanalista Clínica - Registro SOPES - 0120-2021
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