sexta-feira, 8 de novembro de 2024

10 Motivos de porque a mãe narcisista corta o cabelo da filha curto

Muitas sobreviventes mencionam na infância terem tido o cabelo raspado, ou aquele corte “cuia”, onde a mãe coloca uma tigela na cabeça e corta ao redor, resultando em uma franja em um corte bem masculinizados, ou corte "surfista" que também é masculinizado. Algumas até mencionam traumas de terem a cabeça raspada quando pequenas, embora tivessem cabelo longo e bonito.

Motivo 1: Elas não querem gastar com o cabelo da filha, principalmente se ela é o “bode expiatório”. Elas querem dinheiro para elas, então não compram produtos para o cabelo da filha, como shampoo, condicionador ou cremes. Muitas sobreviventes relatam ter crescido usando sabão ou sabonete para lavar o cabelo, pois não tinham acesso a produtos básicos de higiene.

Motivo 2: Cuidar de cabelo longo dá trabalho. Embora para mães narcisistas até pentear um cabelo seja muito trabalho, mesmo que isso exija pouco esforço. A cena do filme Mamãezinha Querida (1981) é um grande exemplo. Esse filme, que eu recomendo, conta a história da filha da atriz americana Joan Crawford. A cena em que a mãe corta o cabelo da filha com fúria, porque ela estava apenas brincando, é um verdadeiro gatilho para quem sofreu esse tipo de abuso. 

Motivo 3: Inveja do cabelo da filha. Se a filha tem um cabelo que chama atenção por ser bonito, seja crespo, cacheado ou liso, a mãe narcisista pode sentir inveja e descontar cortando-o.

Motivo 4: O cabelo da filha chama atenção e atrai elogios, o que provoca raiva na mãe narcisista. Ela quer toda a atenção e os elogios para si, não para a filha.

Motivo 5: O cabelo da filha lembra alguém que a mãe odeia, como uma avó ou outra pessoa com quem a mãe tem conflitos.

Motivo 6: O cabelo é importante para a filha. Se a filha gosta do próprio cabelo, a mãe pode cortá-lo como uma forma de causar sofrimento, tirando algo que a filha valoriza.

Motivo 7: Misoginia. A mãe narcisista, assim como a sociedade, muitas vezes é misógina e odeia o que representa o feminino. O cabelo longo pode simbolizar a feminilidade, que ela rejeita.

Motivo 8: Ela odeia o próprio corpo, e projeta esse ódio na filha, inclusive no cabelo.

Motivo 9: Para castrar sexualmente a filha. Algumas mães narcisistas castram a feminilidade da filha para que ela não atraia atenção ou elogios.

Motivo 10: Em momentos de fúria, como no filme Mamãezinha Querida, onde a mãe corta o cabelo da filha em um surto, machucando-a fisicamente e emocionalmente. Ela vai lá e desembaraça brutalmente, machucando, e ela dizendo para a mamãe. E os gritos de horror dessa criança, que é uma atriz maravilhosa, ecoam no meu cérebro até agora. Nessa cena, quando ela dá o solavanco, ela diz: "Você está sempre tentando fazer as pessoas olharem para você, gritando, berrando. Você está sempre tentando fazer as pessoas olharem para você. Você é fútil, mimada. Prefiro que você vá careca para a escola do que parecendo uma [__]. Você está mimada, eu estraguei você". Bem clássico de mãe narcisista oculta. Esse filme não tem dublado, Juliana, só legendado. É muito bizarro, gente. Uma mãe dizer isso para uma criança de 8 anos, que ela está parecendo uma [__], só porque ela está em frente ao espelho brincando, encenando. E dizer que prefere que a menina vá careca para a escola e que ela foi mimada, que a estragou. Isso foi o que eu ouvi a vida inteira: que minha mãe me estragou, me amou demais, por isso eu era uma criança chorona. Isso tudo, eu arreganhava a cara. Outro gatilho dessa cena é que, depois que ela corta o cabelo da filha, ela segura a cabeça dela para ela se olhar no espelho. 

Esse filme é muito difícil. É um grande gatilho para quem tem mãe narcisista oculta, que tem surtos de fúria. A mãe, gente, pode entrar em uma crise de fúria. Ela é narcisista oculta, então ela não vai deixar marcas físicas. Ela não vai quebrar um braço, não vai deixar um roxo na filha, não vai dar um soco e quebrar o dente. Ela faz isso psicologicamente, cortando o cabelo da filha. E isso, gente, é diferente de quando uma mãe, acidentalmente, corta o cabelo da filha e corta errado. Não é a mesma coisa. Gente, cortar o cabelo de uma filha errado porque ela não tem dinheiro para ir ao salão, para cortar as pontas, para o cabelo ficar mais bonito... Isso é uma coisa. Mas cortar o cabelo da filha de propósito, de forma cruel, constantemente—isso tem um propósito. Não é acidental. Uma vez é uma coisa, mas quando se repete, é um padrão. Isso me traz recordações, porque muitas sobreviventes têm essas lembranças do cabelo curtinho. E, nas fotos, as meninas muitas vezes foram vestidas como meninos. Não era só o corte de cabelo. Eu era confundida com menino quando estava com um casaquinho com capuz. Perguntavam se eu era menino, porque estava sempre usando roupas de menino: bermudas, camisetas, tênis. Tudo doado. Ela não comprava nada para mim. Tinham poucas peças rosas, enfim, amarelas ou vermelhas, que ela gostava. Elas vestem os filhos com as cores que elas gostam, e eu era confundida com menino. Isso é comum. Eu sofria bullying na escola, porque elas castram as filhas para que elas não pareçam femininas, para tirar esse olhar de beleza, de chamar atenção.

Essa crise de fúria pode acontecer, por exemplo, quando a mãe se aborreceu, brigou no trabalho, e chega em casa descontando a raiva na filha. A forma de descontar é cortando o cabelo da filha com toda a violência. 

Terrível, né? A Cristina Crawford é uma sobrevivente, escreveu um livro, e fizeram um filme muito triste sobre isso. Assim como muitas mulheres que passaram por esse sofrimento e até hoje têm dificuldade de usar cores mais femininas, maquiagem, ou se verem como femininas, porque foram acostumadas ao oposto.

Resgatar a feminilidade depois de experiências dolorosas que inibiram essa expressão é um processo delicado e poderoso. A feminilidade é uma parte única e subjetiva de cada pessoa, que não precisa seguir padrões externos, mas sim respeitar o que é autêntico para você. Aqui estão algumas formas de começar a se reconectar com a feminilidade e redescobrir essa parte de si:

1. Autoaceitação e Autocompaixão: Aceitar suas dores e o impacto que elas tiveram é um primeiro passo importante. Cultivar autocompaixão, entendendo que as feridas emocionais precisam de tempo para cicatrizar, é essencial para que você possa se sentir segura e aberta para redescobrir partes de si mesma.

2. Explore Suas Preferências Pessoais: Em vez de tentar adotar uma visão externa de feminilidade, experimente roupas, cores, estilos e até maquiagem para ver o que realmente faz você se sentir bem. Pense no que gosta de usar e na imagem que deseja ver no espelho. 

3. Desenvolva a Expressão Corporal e a Postura: A maneira como você se move e ocupa o espaço pode afetar sua sensação de feminilidade. Práticas como dança, ioga ou alongamento ajudam a aumentar a conexão com o corpo, despertando movimentos que podem despertar a confiança e a segurança.

4. Cuide de Sua Aparência para Você Mesma: A feminilidade pode ser expressa pelo cuidado pessoal. Separe um tempo para cuidar de si — com ou sem maquiagem, acessórios, esmaltes, seja como for. Faça isso como um ritual seu, apreciando o tempo de se cuidar sem a pressão de agradar ninguém além de você.

5. Explore Sua Sensualidade e Conforto com o Corpo: Se sentir bem no próprio corpo é essencial para resgatar a feminilidade. Atividades como dança livre, alongamento ou até mesmo investir em roupas íntimas confortáveis que façam você se sentir bem podem ajudar. Lembre-se de que sensualidade não é sobre sexualidade, mas sim sobre se sentir bem consigo.

6. Construa uma Rede de Suporte e Inspiração: Fale sobre isso com pessoas de confiança, que validem sua experiência e seus sentimentos. Às vezes, ler ou ouvir histórias de outras mulheres que passaram por algo parecido e conseguiram se reconectar com sua feminilidade pode ser muito inspirador.

7. Seja Paciente com o Processo: Recuperar essa parte de si não acontece do dia para a noite, especialmente quando houve traumas profundos. Dê-se o tempo que for necessário, respeitando seus limites, e seja gentil consigo ao longo do caminho.

8.Busque Terapia, Se Possível: Ter um espaço seguro para processar emoções com o apoio de um profissional pode ajudar muito. Isso não só pode ajudar a resolver feridas do passado, mas também construir um espaço interno mais seguro para que você explore sua feminilidade de forma autêntica e livre.

Lembrando sempre que ser feminina é algo que você define para si mesma, e a melhor versão será aquela que fizer você se sentir inteira e em paz.

Virginia Coser - Psicanalista Clínica - Registro SOPES - 0120-2021


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